Poucas obras na vida têm o status de pertencer à categoria de acontecimento extraordinário, e O Milagre de Gershom Scholem com certeza é uma delas. Sem a menor formação em arquitetura ou mesmo fabricação de maquetes, não havia como uma construção como esta ter nascido das mãos de André Braga. Muito menos surgido com o tema que tem, a linguagem da Cabala e todo o seu simbolismo. Mesmo inspirada em sua experiência pessoal com as leituras que teve do famoso historiador e erudito Gershom Scholem, não havia como uma expressão visual ser tão espontaneamente bem construída como esta. O quadro, da forma como está, acrescenta muito mais ao legado de Gershom Scholem do que muitos dos livros escritos a seu respeito. A linguagem interior que habita a construção cria um misto de fé, misticismo e espiritualidade. Nela encontramos não apenas fatos biográficos relativos à sua difícil história de vida, mas toda a terrível luta que teve de enfrentar para provar que existe uma corrente mística que nos perpassa, mesmo diante de tanto materialismo, e que o mais livre e o mais fiel de todos não é aquele que acompanha a correnteza tranquila de opiniões favoráveis, mas aquele que prova sua verdadeira fé enfrentando com convicção todas as críticas contrárias ao seu percurso. O que permitiu que esse milagre de criatividade sem igual acontecesse, continuará a ser para sempre um mistério. Responder a essa pergunta é reconhecer que André Braga criou uma expressão visual própria entre artista e público e que, com sua evolução estética, sugere um novo modo de apreciarmos a reinvenção da arte.